
Encontrei a solidão esses dias, entre 9 e 10 da noite. Era uma terça-feira, e as terças-feiras sempre se mostraram difíceis e ardilosas. Sinto o gosto da terça-feira, nem chega a ser amargo, tem gosto de inseto que entra pela boca quando você está distraído. As memórias de outras terças-feiras, do peso do dia que parece ter mais de 24 horas, que parece ser longo como um sermão na igreja, que é insuportável como o horário político. É terça-feira, estou sozinha, vulnerável, o tempo é gelado, o vento é cinza. Perfeito para um encontro com ela, justamente de quem mais procuro fugir, me esconder, evitar esbarrões desnecessários.
A solidão é supérflua, não preciso dela, não sinto falta, não desejo e aprendi a me livrar dela com o tempo. Aliás, fazia muito tempo que não pensava nela. Mas bastou ser terça-feira, fazer frio e ser 9 horas da noite, entrar no carro, dar algumas voltas pela rua, ver os bares com casais, ver outros bares vazios, não ver nenhuma mulher sentada sozinha em nenhum deles para me sentir sozinha. Vejo um homem sozinho no bar, bebendo e fumando. A solidão veste melhor um homem que uma mulher. A visão de uma mulher no bar, sozinha, fumando e bebendo é dura e estranha. Além da solidão ainda encontro o preconceito. Estou muito bem acompanhada nesta terça, como já deu pra notar.
De nada adianta os livros que li, o quanto amadureci antes do tempo, todos os perrengues que passei, não adianta o que algumas pessoas já falaram de mim, que sou forte, que agüento tudo, que seguro qualquer coisa. As frases prontas estalam na cabeça: você não precisa de ninguém para ser feliz, você tem que se bastar, você não pode depender de ninguém. Quem falou tudo isso não estava no meu lugar, numa terça-feira fria, com a solidão ali, sentada no banco do carona olhando pra mim. E quanto mais voltas eu dava, querendo encontrar um lugar para me livrar dela, mais ela se recostava no banco e ria. Também dói em mim saber que a solidão existe e insiste.