21.12.07

Coisa de homem

- Ei, que porra é essa no seu pé?
- O que, meu amor?
- Aí no seu pé. Que merda é essa?
- O que tem no meu pé?
- Na unha, na unha. O que é isso?
- É esmalte. Vai dizer que nunca viu?
- Lógico que já vi. Dãã. Mas por que sua unha tá pintada de vermelho? E só no pé?
- Porque na mão descascou, eu tirei. Mas no pé fiquei com preguiça. Aí deixei.
- Puta merda. Fala sério.
- Fala sério você. Não acredito que vamos parar de transar porque você não gosta de esmalte vermelho na unha do pé.
- Não é que eu não goste. Eu ODEIO. Eu acho o fim da picada. Se vai tirar o esmalte da mão, tira do pé também. Que relaxo.
- Larga de ser bobo. Vai, continua fazendo aquilo. Tava booommmm...
- Não, não. Pára. Não vou conseguir. Vou ficar pensando no seu pé, na sua unha.
- Você não pode estar falando sério. Pára de viadagem.
- Ah tá. Agora eu sou viadinho.
- É. E tem mais. Tô indo embora. Eu e meu pé de unha vermelha.
- Porra. Calma aí. Vamos conversar. Deve ter acetona em algum lugar por aqui.

Texto-presente que ganhei do meu amigo Marcello Miranda. Feliz Natal pra você.

13.12.07

Revelações

- Que foi? Você tá estranha.
- Né nada não.
- Mas você mudou de uma hora pra outra.
- Que nada...
- Foi o filme? Você não gostou?
- Não, adorei.
- Foi nosso primeiro filme juntos, né? Ainda vai ter mais um monte de primeiras coisas, já pensou que delícia?
- Pensei sim.
- Poxa, Teté, você mal tá conversando. Conta o que é.
- Nada... acho que preciso ir embora.
- Ir embora? Mas a gente não ia fazer um macarrão especial, abrir um vinho?
- Eu sei, amor, eu sei, desculpa. Mas tenho que ir.
- Peraí. Você achava que tinha que ir e agora já tá calçando a sandália pra sair?
- Não é nada com você.
- Ah, Teté, nem vem com esse clichê de o problema sou eu e não você.
- Júlio. Eu sou louca por você. Faz tempo que não sinto isso tudo por alguém, mas eu preciso ir. Se não consegue entender, pelo menos aceite, por favor.
- Poxa, agora vai ficar um climão.
- Amanhã eu volto, Júlio. Só tenho que ficar um pouco sozinha, sabe?
- Mas você tá aqui faz duas horas só.
- Me leva até a porta?
- Tá. Cadê meu chinelo?
- Vem descalço mesmo, tô com pressa.
- Pressa? Agora tá com pressa? Você tem outro compromisso?
- Caramba, Júlio, pára de pensar besteira.
- Mas o que é pra pensar? A gente estava abraçadinho, vendo filme, dando uns amassos bons e de repente você quer ir embora? Sinceramente eu...
- Merda.
- Teté.
- Não fala nada, não fala nada.
- Isso foi um pum, Teté? Você peidou?
- Não olha pra mim, sai de perto.
- Teté, pára de correr, volta aqui.
- Páááára. Não venha atrás.
- Tetezinha, isso tudo é porque você quer fazer cocô?
- Eu não faço cocô, não pra você.
- Teté, pára de correr, você vai fazer na calça desse jeito.
- Tá, tá. Parei. Era isso. Queria fazer cocô. Agora você sabe e a vizinhança toda também. Que vergonha.
- Meu amor, que bobagem. To com câimbra na bochecha de tanto rir.
- Ri... ri mesmo. Que situação... cocô não combina com começo de namoro. E eu ainda soltei pum, é o fim.
-Teté, eu também faço cocô, larga de ser boba. Talvez a gente pudesse ter adiado essas revelações, mas agora a merda tá feita. Ou quase.
-...quero enfiar a cabeça embaixo da terra.
- Oha pra mim. Você vai subir agora e fazer esse cocô lá no banheiro, tá?
- Tá... mas você fica longe? Não quero que escute nada.
- Juro. Vou ficar com a tv ligada, lá na sala.
- Tá... então eu vou.
- Me dá um abraço antes.
- Dou...
- Mas não peida não, hein?