
Bem que minha mãe dizia que eu entenderia. Ela sabia que um dia, eu daria razão.
Ser rebelde é fácil quando não se tem que arcar com as conseqüências. Quando não tem conta pra pagar, pais que protegem, a inocência como argumento. Talvez seja por isso que eu chore tanto com amores de filme. Eles largam tudo, abdicam das vidas aparentemente perfeitas por algo que nem sabem se vai ter futuro. Porque o futuro pouco importa perto de tanto presente. Lembra os impulsos da infância. Os mesmos que hoje são inconseqüentes.
Quando lembro de tudo que fiz quando era uma cabeçudinha dá arrepio na espinha. Como sobrevivi àquele atropelamento? Da onde tirei a idéia de que dava pra pular aquele fusca? E aquele dia em que, junto com a melhor amiga, inventei de comer formiga pra tentar curar miopia? Imagina que idéia besta. E se tem ferrão?
Inevitável não lembrar de todas as aventuras sem sorrir com aquele apertinho no peito. Uma saudade boa. Não dos bons tempos. Esse papo de bom tempo é um pé no saco. Cheira a naftalina, a tio do Napoleon Dynamite. É saudade da coragem inocente, que não vê motivos pra ter medo. Além de castigo dos pais. Pelo menos os meus sabiam castigar. E até nisso têm seus méritos. Obviamente não era assim que eu enxergava as coisas na época. Era um absurdo ser impedida de fazer o que quisesse na plenitude dos meus... doze anos.
Engraçado agora ver o outro lado. Como nossos pais. A música dizia isso e eu pensava “nunca vou ser como eles, nunca”.
Lembro que odiava eles por não gostarem de Guarapari no verão. Poxa, que motivo eles teriam pra não querer enfrentar uma praia lotada, num calor desumano, num mar cheio de xixi pra quando voltar pra casa ver que faltou água? Parecia uma grande aventura. “Todo mundo faz, mãe. Por que a gente não?”. Que paciência ela teve pra tentar explicar isso.
Em vez de Guarapari, a gente ia passear na fazenda. Eu ia sonhando em me jogar no rio Doce, caçar minhocas pra jogar na cabeça dos meus irmãos, brincar com os cachorros pulguentos que andavam soltos por lá. E minha mãe preparando almoço pra levar, arrumando mala pra três malinhas, levando produto de limpeza pra faxinar a casa. Será que ela gostava desses passeios como a gente?
E não é que hoje eu entendo meus pais? Me irrito com bagunça, carro com som alto, micaretas no meio da rua, gente inconveniente que fica querendo se socializar sempre. Tive espaço para minhas aventuras que, tenho certeza, eles conhecem bem e disfarçavam direitinho. Quero fazer o mesmo quando chegar minha vez. A infância tem que ter fotos engraçadas, com óculos escuros gigantes no rosto pequeno, pernas finas, pancinha saliente e durinha. Tem que ter uma cicatriz, um amor disfarçado por brigas e roupas ridículas. E pais corajosos, que saibam a hora de permitir e puxar as rédeas também.
Não tem nada mais chato que um adulto que cresce sem limites. E nada mais triste que não ter uma infância divertida pra se lembrar.
Ser rebelde é fácil quando não se tem que arcar com as conseqüências. Quando não tem conta pra pagar, pais que protegem, a inocência como argumento. Talvez seja por isso que eu chore tanto com amores de filme. Eles largam tudo, abdicam das vidas aparentemente perfeitas por algo que nem sabem se vai ter futuro. Porque o futuro pouco importa perto de tanto presente. Lembra os impulsos da infância. Os mesmos que hoje são inconseqüentes.
Quando lembro de tudo que fiz quando era uma cabeçudinha dá arrepio na espinha. Como sobrevivi àquele atropelamento? Da onde tirei a idéia de que dava pra pular aquele fusca? E aquele dia em que, junto com a melhor amiga, inventei de comer formiga pra tentar curar miopia? Imagina que idéia besta. E se tem ferrão?
Inevitável não lembrar de todas as aventuras sem sorrir com aquele apertinho no peito. Uma saudade boa. Não dos bons tempos. Esse papo de bom tempo é um pé no saco. Cheira a naftalina, a tio do Napoleon Dynamite. É saudade da coragem inocente, que não vê motivos pra ter medo. Além de castigo dos pais. Pelo menos os meus sabiam castigar. E até nisso têm seus méritos. Obviamente não era assim que eu enxergava as coisas na época. Era um absurdo ser impedida de fazer o que quisesse na plenitude dos meus... doze anos.
Engraçado agora ver o outro lado. Como nossos pais. A música dizia isso e eu pensava “nunca vou ser como eles, nunca”.
Lembro que odiava eles por não gostarem de Guarapari no verão. Poxa, que motivo eles teriam pra não querer enfrentar uma praia lotada, num calor desumano, num mar cheio de xixi pra quando voltar pra casa ver que faltou água? Parecia uma grande aventura. “Todo mundo faz, mãe. Por que a gente não?”. Que paciência ela teve pra tentar explicar isso.
Em vez de Guarapari, a gente ia passear na fazenda. Eu ia sonhando em me jogar no rio Doce, caçar minhocas pra jogar na cabeça dos meus irmãos, brincar com os cachorros pulguentos que andavam soltos por lá. E minha mãe preparando almoço pra levar, arrumando mala pra três malinhas, levando produto de limpeza pra faxinar a casa. Será que ela gostava desses passeios como a gente?
E não é que hoje eu entendo meus pais? Me irrito com bagunça, carro com som alto, micaretas no meio da rua, gente inconveniente que fica querendo se socializar sempre. Tive espaço para minhas aventuras que, tenho certeza, eles conhecem bem e disfarçavam direitinho. Quero fazer o mesmo quando chegar minha vez. A infância tem que ter fotos engraçadas, com óculos escuros gigantes no rosto pequeno, pernas finas, pancinha saliente e durinha. Tem que ter uma cicatriz, um amor disfarçado por brigas e roupas ridículas. E pais corajosos, que saibam a hora de permitir e puxar as rédeas também.
Não tem nada mais chato que um adulto que cresce sem limites. E nada mais triste que não ter uma infância divertida pra se lembrar.