Mudei com meus pais para Vitória quando tinha 14 anos. Achei a cidade uma droga. Eu morava em Brasília, tinha lá meus amigos, minhas histórias de infância, minha escola onde estudei desde pequena, todas as minhas referências. Mudar para Vitória foi o primeiro trauma que vivi. No avião, vindo pra cá, chorei nas 2 horas que duraram o vôo. Nem a visão da praia de Camburi, que eu ainda não sabia que era poluída, serviu para me alegrar. Que se dane a praia, quero minha rua, que lá em Brasília a gente chama de quadra. Quero jogar vôlei aos domingos, andar de bicicleta no Parque da Cidade, ir aos shows da Plebe Rude. Ninguém aqui conhece a Plebe Rude? Um absurdo. Passei um ano inteiro trocando cartas com todos os meus queridos amigos de Brasília, que me contavam detalhes das melhores festas, quem havia ficado com quem, quem havia terminado com quem. Falavam também do futuro, do vestibular que iriam fazer, para onde iriam nas próximas férias. Como era de se esperar, o tempo passou, as cartas sumiram, o contato se perdeu.
Tenho 33 anos agora, ainda moro em Vitória e resolvi que preciso me apaixonar pela cidade. E não preciso esquecer Brasília pra isso acontecer. Na verdade, moro em Vila Velha. Mas como são municípios próximos – Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica - acabo chamando tudo pelo nome da capital. Conheço pouco sobre a história do lugar onde vivo – e pelo que tenho visto, meu filho também não tem aprendido muito. Não sei dizer se isso é geral, mas acho que as escolas não dedicam muito tempo às histórias locais. Decidi então que vou conhecer e respeitar a cidade onde moro. Geograficamente falando, acho Vitória linda. É um privilégio morar numa ilha, ter um porto no centro da cidade, ter o mangue, as praias, a baía, o canal. Os recortes são bonitos, as pedras e montanhas, ah, sim, os morros com suas casinhas formando as favelas. Que cidade não tem isso? Vitória tem tudo para ser uma cidade charmosa. Não sei por que ainda não é. Sinto falta de livrarias com cafés, de cinemas nas ruas, de mais praças, de calçadas bem cuidadas, de menos lixo, de fachadas bonitas nas lojas. De música, de festivais, de teatro, de cultura popular, de expressividade. De bares com mais identidade, de restaurantes com mais a oferecer do que um cardápio sem nexo. De pessoas perambulando nos finais de semana, andando, almoçando mais tarde, visitando exposições de arte. Sinto que falta em Vitória as pessoas viverem a cidade. Fiz minha parte no último fim de semana. Fui ao Museu de Arte do ES ver uma exposição chamada Universo do Cordel. Aproveitei e também fui no Museu da Vale do Rio Doce ver outra exposição. No próximo fim de semana quero pegar uma escuna e conhecer os mangues que permeiam a cidade.
Tudo que quero mesmo é parar de reclamar, reclamar sem realmente saber do que estou falando. Resolvi começar pela cidade. E assim quero que seja com as pessoas, com o trabalho, com a vida. Reclamar é muito chato.
Ilustração: Claudio França. Links: www.vitoria.es.gov.br;www.maes.es.gov.br
7 comentários:
adoro!!! será que é porque adoro vcs duas!!!nao sei!! mas me divirto a cada texto!! bjs..pras duas...aninha
oi anninha, a gente também adora você. que ótimo seu comentário, a gente sente que vale a pena escrever :) bjos
Gosti muitão, docinho. Acho que muita gente põe na cabeça que tem que sair de vitória, tem que sair de Vitória e deixa de conhecer mais a cidade. Não que eu seja contra morar fora (aliás, eu adoraria), mas ficar falando mal em vez de explorar melhor a ilha não leva à porra nenhuma, causa uma insatisfação eterna e ainda enche o saco dos outros.
ei elisa, obrigada pela visita no Yves. Venha sempre! Sabe, eu não costumo esbravejar contra nada, mas aquela capa me provocou um bocadinho...rs. Dá uma olhada nos post's mais de março pra vc ver os primeiros. beijo!
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Eu também tenho que parar de reclamar sem sentir.
Sandra
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