21.9.06

Minha grama é mais verde

Era casada. Bem casada até. Marido bonzinho, que leva café na cama, dá flores sem datas comemorativas e liga pra dar satisfação. Vivia com ele por oito anos e o amava de um jeito gostoso e tranqüilo, como nunca havia sido. A harmonia era perfeita. Combinavam tão bem quanto chocolate e tpm.

Mas um dia ela soube. Chegou ao seu ouvido que aquele tal de Fred, o rapaz lindo amigo de Betina e Davi, era perdidamente tarado por ela. Mas você vê só... o Fred. O Fred pode ter a mulher que quiser. Fred toca em uma banda. Toca bateria e faz as meninas quererem nascer bumbo na próxima encarnação. A timidez, hunpf, a timidez dele é minhoca em anzol. E como tem garota que fisga. Mas ela? Ela nunca, nunca pensou que com tantas candidatas disponíveis, seria a escolhida.

Gargalhou. Claro! Só porque ela era comprometida. O difícil é mais interessante, mais desafiador. Filho da puta esse tal de Fred. Mas que filho da puta mais gostosinho da mamãe. Filho da puta dez vezes, maldito. Por que foi querer justamente ela? Agora vivia ocupando aqueles segundos de ócio na vida dela. No momento em que mexia o açúcar no café, bu! Lá vinha o rosto dele em sua memória. Quando trocava o rolo de papel higiênico, bu! Fred na cabeça. Quando procurava o vidro de desinfetante, bu! Olha o Fred de novo. Já estava mais pra Fred Kruguer, de tanto que ele assombrava a vida dela.

Como queria nunca ter sabido disso. Agora se sentia uma estúpida, eterna insatisfeita, que tem a vida que sonhava ter desde os 12 anos, com cada meta cumprida no tempo ideal, mas desejando aquele baterista. Falando assim parece até que Fred não valia a aflição dela. Que nada. Fred era doce. Adorava animais, era fiel às namoradas, tratava a família com respeito, era esperto, tinha um emprego que amava.

Foda-se toda as qualidades do Fred. Ela queria odiar Fred. Não, odiar também não, porque aí ia acabar querendo mais ainda. Mais? Seria possível? Ele já podia entrar na justiça e pedir usucapião por tempo de ocupação da mente dela. No banho, imaginava ele entrando no box. Quando trocava de roupa após o banho, escutava a voz baixinha dele falando "sabia que você é linda?". Quando se vestia pra sair, o ouvia mandar tirar tudo de novo pra então treparem loucamente, até ela ligar para o 190 e pedir socorro. E logo depois de ter pensamentos grudentos e molhados, ela quase chorava olhando para a foto do marido.

A relação com Fred não tinha futuro. Resolveu deixar de lado, terminar tudo antes de começar. Nunca comentou nada, nem mesmo com as amigas. Fred era a prova de que ela ainda era capaz de atrair homens, apesar de comprometida. Pode parecer estranho, mas era a certeza de que seu marido era o homem certo. Afinal, ela poderia estar com Fred, definitivamente ou às vezes, pra dar uns pegas. Mas nada valia tudo que havia conquistado com seu esposo. Daí em diante, sempre que brigava com o marido, que se sentia feia ou precisava de um elogio, ela pensava "Fred me quer" e tudo ficava bem de novo.

Ilustração do Galvão: www.vidabesta.com

11.9.06

Backstage


Ele invadiu e por trás. Nem sequer perguntou se podia, a foda já estava mais do que quente para ser interrompida com cerimônias. Ela tremeu, se encolheu diante da dor extrema que o ato provoca. O bico do peito endureceu, não sabia se de excitação ou pavor. Foi se acostumando com a idéia, mais pela condição em que se encontrava. Estava totalmente dominada, era quase um estupro. E nos dias de hoje, com tanta luta das feministas pela igualdade, ser dominada assim havia se tornado um fetiche para ela. Era independente, bonita, tinha dinheiro e apartamento. Não precisava de ninguém. Podia sim ser subjugada. Nossa, que pau duro esse, pensou. E se sentiu molhada novamente, a dor estava dando lugar ao prazer. Demorou a admitir isso, mas sexo anal era bom, uma delícia. Leu que apenas 15% das mulheres admitem fazê-lo e se encheu de orgulho. Se sentiu inchada e quente e desejou mais e mais. Agora gritava. Entendeu que a mulher leva a melhor na hora em que trepa. Além dos peitos fartos, tem vagina, clitóris, lábios. Podem-lhe comer o rabo enquanto ela brinca com os dedos, enfiando, tirando, esfregando. Pensou que amanhã mesmo iria comprar um vibrador para sentir ainda mais prazer. Se orgulhou de novo em ser mulher. E riu da idéia de que o homem se contenta em comer seu cu, que se gaba por isso e nem consegue enxergar que quem se dá bem na verdade é ela.