30.11.06

Aniversário de um ano - nossa declaração de amor ao blog.


Ó, docinho, fez um ano o nosso blog. Adorei conseguir manter isso, escrever de 15 em 15 dias, com poucos atrasos, nenhum furo e muito orgulho dos nossos poucos e fiéis leitores. Podemos chamar de conquista? Pra mim foi até mais. Exorcizei alguns fantasmas, troquei a análise pelos textos e oba, economizei. Conheci pessoas novas que conhecem mais de mim do que minha própria mãe. Com o Redatoras de Merda, abri uma caixa de pandora, acho que daqui não deixa mais de sair nada. Também não tô ligando se pensarem pô, esse menina só fala dela mesma, que coisa chata. Gostei muito de conseguir escrever sem precisar ter um job na frente. Querido blog, parabéns pra você.

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Lembra quando começamos a trocar textos que escrevíamos quando vinha a vontade de gritar? Lamentamos fazer isso com pouca freqüência. Daí surgiu a idéia do blog. Afinal, bem ou mal, sabemos conviver bem com prazos e obrigações. E transformamos escrever em um dever de casa, uma terapia, uma diversão. Lembra no início, como sentíamos vergonha de postar? Do frio na barriga? De descobrir que alguém lia?! Meu Deus, alguém lia aquilo, ai, socorro. E ainda lê. Depois ainda comentaram. Ficamos tímidas, mas felizes que nem crianças. Ainda ficamos, na (e de) verdade. Quando ninguém comenta, falamos “ninguém tá lendo porra nenhuma” e caímos na gargalhada. Obrigada, brógui por me aproximar de mim, da docinho e de pessoas fofas que apareceram no caminho.
(docinho, meu texto ficou maior que o seu pra manter a tradição, tá?)

ilustração: vlad paiva. adoramos:)

16.11.06

Sem pensar


Acordei pensando, pensando, pensando, cansada como se não tivesse dormido. Como se tivesse passado a noite inteira pensando, pensando. Acho que minha cabeça tem o maior HD do mundo. Cabe tanta coisa, tanta coisa, que pra ela ficar bem ocupada, tenho que enchê-la de informação.Quando tenho poucas coisas pra fazer e pensar, parece que os pensamentos tomam uma dimensão grande, incham, inflam e recebem mais atenção do que deveriam. É um perigo isso. Começo a pensar besteiras de todos os tipos e desenvolver assuntos que não têm que ser desenvolvidos.

Eu não gosto de nada complicado, não acredito que por trás de tudo que alguém diz ou faz exista outro significado. Não fico procurando duplo sentido em tudo que leio e escuto. Mas ser simples é difícil quando eu tenho espaço demais pra pensar. Porque acabo destrinchando demais as coisas. E aí fico chata, questionadora, implicante, querendo explicação pra tudo. Quem sofre mais são as pessoas que mais amo. É uma covardia isso, mas é histórico. Descarregar qualquer coisa em que mais amo é um defeito vergonhoso e que juro, venho lutando contra faz tempo. Com bons resultados. Falei que é covardia, porque brigar com quem gosta da gente é ter a garantia da desculpa. É esperar compreensão de volta. Fora que me parece uma busca desesperada por atenção.

Quando minha cabeça fica vazia, eu começo a procurar defeitos. Encaro o espelho e vejo imperfeições inaceitáveis, temíveis. Onde existem as usuais celulites e estrias, vejo deformidades que nem os melhores maquiadores hollywoodianos poderiam reproduzir.
Preciso encher a cabeça de ocupações. Divagando sou um perigo. Leio as entrelinhas quando elas não existem.

Difícil foi enxergar isso tudo e questionar: será que minhas reclamações conferem ou estou perdendo a razão? Se estivesse com problemas de verdade, estaria colocando chifre em cabeça de cavalo? Com certeza não. Piora quando, além de reclamar, grito, xingo e perco a razão. Mesmo estando com a razão. E aí, fico ainda mais nervosa, porque mesmo argumentando, vão achar que é apenas mais um piti.

Ainda não levantei da cama. Preguiça, vontade de não fazer nada. O gato entra no quarto e me olha com carinha de quem quer ser levado pra passear na varanda. Meu peixe olha pra mim querendo comida. Como é fácil vida de bicho. Acho que quero ser gato na próxima vida.

Ilustração do Galvão: www.vidabesta.com

3.11.06

Me tire daqui


De segunda a sexta acordo entre seis e seis e meia. Ando quatro quilômetros por dia. Às vezes, seis. Às vezes na areia da praia, às vezes no calçadão. Muitas vezes pela manhã. Poucas, à noite. Tomo café da manhã todos os dias. Nunca deixo de tomar. Nem de escovar os dentes. Fio dental eu tenho preguiça, às vezes esqueço. Vou à manicure uma vez por semana, depilo de 20 em 20 dias. Corto o cabelo a cada três ou quatro meses.

Vou ao dentista, cardiologista, ginecologista uma vez por ano. Vou ao cinema uma vez por semana, aos domingos. Mas estou preferindo as quartas mais em conta. Tenho vontade de chorar pelo menos uma vez por mês, mas não posso ver gente chorando na TV que também choro junto. Choro sempre que vejo uma cena de Crash, quando a menininha entra na frente do moço que atira no pai. Choro muito. Leio todas as noites antes de dormir. Durmo cada vez mais e leio cada vez menos. Menos de uma página por noite. É quase um ano para ler um livro. Uma vez por mês gosto de ir a um bom restaurante, japonês de preferência. Viajo uma vez por ano por pelo menos dez dias. Encontro minhas amigas de adolescência a cada dois meses ou mais. Muito pouco. Faço sexo nos finais de semana. Ou nos feriados. Muito pouco também. Vou ao supermercado todas as sextas-feiras. Pego filme na locadora às sextas também. Escrevo de quinze em quinze dias para este blog. Tento comer doce apenas nos fins de semana.

Trabalho todos os dias. E todos os dias me imagino saindo dessa rotina. Me imagino indo segunda à tarde para o cinema, dormindo até meio-dia em plena quarta-feira, nadando às cinco da tarde qualquer que seja o dia, almoçando em uma barraquinha na praia, sumindo por dois dias sem avisar a ninguém, bebendo vinho numa tarde fria, fazendo curso de teatro às 10 da manhã, lendo um livro inteiro em um dia, andando de barco, visitando uma exposição no centro da cidade, indo a uma festa na terça à noite e chegando às 8 da manhã em casa. E mais que tudo isso, imagino por quem, além de mim mesma, me motivaria a fazer tudo tão diferente.