26.1.06

"Às sextas sou mais feliz"


Acordei pensando em ir pro trabalho com meu tênis adidas laranja, jeans e camiseta branca. Era sexta-feira, um dia que, mesmo sendo útil, tá mais pro clima de relax do que pra mules e saias-lápis típicas de reunião com cliente. Além da roupa, meu humor também estava mais casual. Perguntei-me se era somente o efeito sexta-feira, se só de olhar pela janela e enxergar somente os sorrisos das pessoas era uma atitude normal ou acontecia por ser o melhor dia da semana. Mas, como era sexta-feira, não quis pensar muito sobre isso. A semana tinha sido longa, quase uma montanha russa, com alterações bastante acentuadas. Já sei que são meus hormônios que se alteram, mas isso é assunto para outra história.

E já que é sexta-feira, quero usar branco, quero estar com vestidos floridos, quero ter cabelos longos e esvoaçantes, quero tomar sorvete, quero sair do trabalho antes do sol se pôr, quero ler um romance açucarado, quero ouvir cigarras cantando, quero receber um aumento, quero pegar um avião e chegar ao Rio na hora do rush. E foi numa dessas sextas-feiras que, estando desse jeito, pintei os pés e as mãos de rosa para ficar com dez pétalas me sentido flor.

Gus, obrigada pelo título e pelo incentivo.

24.1.06

Só pra mim

Nas últimas semanas vi duas cenas incríveis. Descrevendo não vai ser a mesma coisa porque, afinal, sou uma mera redatora de merda.

A primeira delas aconteceu semana passada, num típico dia sauninha. Aquele ar abafado, denso, quase sólido. Céu com algumas poucas nuvens largas, daquelas que são mais pra filó do que pra algodão. Lá no fundo, umas bem cinzas e carregadas chegavam. A luz do dia era estourada, parecia flash: bem branca, que incomoda mais do que dia de solão amarelo. Andava para o trabalho pensando em alguma besteira quando vejo passar, bem na frente das nuvens escuras, um avião. O contraste foi o que mais me chamou a atenção. O avião, que já era claro, reluzia ainda mais com os raios brancos que batiam nele. A diferença de tons entre ele e a nuvem era tão grande que o avião parecia haver sido recortado e colado lá. Depois fiquei impressionada com a imensidão daquela nuvem, que fazia aquela geringonça, de metros de largura e mais metros de altura, ficar igual a um brinquedo.

Agora a segunda história.
Voltando pra casa do trabalho, em um dia diferente, aconteceu a outra cena. O vento estava forte e eu caminhava contra ele. Contra, mas a favor, já que ele muito me apetecia naquele instante. Estava de cabeça baixa quando senti algo encostar em meu rosto. Troquei o chão pelo horizonte e olhei pra frente. As flores de uma árvore, alguns metros adiante, cansaram de resistir ao vento e passaram a segui-lo. Eram tantas que nem sei como tentar enumerar e vinham na minha direção. Com toda delicadeza elas tocavam meu cabelo, meu rosto, os braços, as pernas. O vento continuava sacudindo a árvore que já estava totalmente arqueada, provavelmente lamentando a perda das suas tão estimadas florzinhas amarelas. Elas vinham em formato de casquinha de sorvete. É cônico que se chama, né? Partiam da árvore e vinham se abrindo círculos cada vez maiores, como bolinha de fumaça de cigarro que vai se dissipando no ar.

Pronto. Foi isso.
Parece bobo, banal, simples. Mas essa é a melhor parte: não foi.

Fiquei pensando no porquê daquelas cenas terem martelado minha cabeça por dias. Me dei conta que só consegui admirar os dois momentos porque estava bem. Se eu estivesse de mau humor, ressaca ou acordado com o cabelo horroroso, acharia o avião barulhento e as flores grudentas. Mas não. Lá estava eu, uma pessoa feliz, caminhando pela Eugênio Neto. Não que eu já não fosse. Mas ser lembrada disso de forma inusitada e tão vertiginosa, me fez cair na real.
O melhor é que adorei esse gostinho de pessoa abobada, que sorri com qualquer coisa. Deve ser por isso que ando exigente. Quero o bonito, o doce, o recheio, a parte mais crocante, o último pedaço, a cereja, o elevador vazio, o ônibus no ponto, quero achar dinheiro no bolso, quero o lado bom de tudo.
A tpm vai chegar, o cabelo ainda vai ficar sem jeito, vou queimar alguma coisa na hora de passar. Mas na hora eu penso nisso. Agora quero dar bom dia pra cachorro, achar elogio de peão legal e, assim, ir transformando tudo em aviões prateados e flores amarelas.

13.1.06

Fadiga


Cansei de tudo, começando por mim (para início de ano, esse texto não me parece muito apropriado). Mas não consigo parar com a idéia fixa de cansaço. Os fogos da virada não abafaram os pensamentos que explodem cada vez mais fortes com a mesma nota. Não me diga para procurar um médico, fazer exercícios, tomar vitaminas, fazer análise. Já fiz tudo isso. Já voltei a ficar bem em alguns momentos mas o cansaço sempre volta, e cada vez mais forte, que nem gripe mal curada.

Cansei mesmo. Esses dias, me cansei da minha mãe, no outro, de ser mãe. Cansei de ter que ter tesão, cansei de ficar à toa, do meu trabalho acho que já cansei faz tempo. Cansei das minhas amigas, de saber da vida delas, de ouvi-las com os mesmos problemas. Será que elas também não se cansam daquela vidinha? Cansei de malhar, de querer emagrecer e de estar acima do peso, cansei de comer frutas e beber dois litros d’água por dia. Cansei de arrumar a casa, de escolher cores novas para as paredes, de mudar os móveis de lugar para fazer a energia fluir. Cansei de fumar maconha. Cansei de comprar roupas, fazer as unhas, cortar o cabelo.

Não pense que cansei de viver. Só me cansei da vida que aprontei pra mim. Certinha, normal aos olhos dos outros, tudo no lugar, nada pra se queixar. Nem mesmo da empregada que é honesta e esforçada. Eu me achava normal e equilibrada mas o Grande Cansaço me derrubou. Penso em fugir da minha vida pelo menos umas três vezes por dia. Estou presa a tantos papéis, acordos verbais, documentos assinados que nem sei por onde começar a cavar o túnel pra minha fuga. Notei que isso estava realmente grave quanto cansei de ler e ir ao cinema. Escrever é uma das poucas coisas de que não me cansei ainda.

6.1.06

Leve

Chega de querer tomar a direção sempre. Quero deixar tudo acontecer sem que eu possa frear ao primeiro sinal de problema. Mas que ainda assim, possa pular do carro se quiser desistir. É mais emocionante assim.

Vou ficar só olhando a paisagem, tomando vento no rosto, ignorando os sinais vermelhos e desincronizados. Vou preferir o caminho ao destino final. Olhar para todos os lados sem precisar botar seta.

Resolvam vocês pra onde ir que eu não decido nada. Só sigo. Escuto o que escolherem, aceito o ar-condicionado no máximo, divido espaço com quantos for necessário no banco de trás. Mas não me faça pergunta difícil, não peça pra pensar. Eu vim aqui só pra olhar.
Se a festa estiver ruim, não me importo de voltar. Também não ligo de ficar.

Mande que eu faço. Serei obediente a qualquer ordem, sem sofrimento ou complexo de inferioridade. Sirva aquilo que achar melhor, sem perguntar se eu gosto ou não. Deixo no prato se não quiser. Pinte as paredes, mude a posição dos móveis, compre talheres novos, não me importa.

Imponha. Serei conivente muito antes de você pensar em levantar a voz. E não tenha medo. Porque aquela que você conhece, que cede pouco, provoca, xinga, cospe farpas quando é contrariada não mora mais nesse corpo. De agora em diante, quero ser carona. Pode me levar.

4.1.06

Meu querido desconhecido

Vejo em você uma esperança que perdi faz tempo. E fico a me perguntar como posso pensar tanto em alguém que ainda nem conheci. Sei muito pouco sobre você, mas conheço seu jeito de andar, seu sorriso. Gosto de como me olha, me observa e de como fala comigo. Breves palavras que alimentam o sonho de uma nova paixão, uma nova vida.

Sonho em fugir com você para um lugar que não conheço, deposito em você todas as minhas frustrações, acho que com você tudo será perfeito e eterno. Imagino seu beijo, me imagino na sua cama. Nos breves momentos em que nos falamos, tenho pressa em observar você. Analiso todos os pedacinhos de você, sua nuca, seu cabelo e lá vejo minhas mãos fazendo bagunça neles. Me apaixonei por um desconhecido e essa paixão me move. Não entendia o amor platônico, mas agora cá está ele, bem perto de mim, querendo brincar comigo. O engraçado é que quero ver até onde isso vai. Não que queira conhecer você além do que já nos conhecemos, um rápido aperto de mão. Mas quero ter você na memória todos os dias, quero fantasiar quando o tédio estiver próximo.

Meu querido desconhecido, não permita que eu conheça você melhor. Não me deixe descobrir os seus defeitos, nem me cansar da sua companhia, nem um dia querer reprovar os seus atos. Me ame assim também, de longe. E viveremos felizes com a idéia de um dia tudo ser real.