Nas últimas semanas vi duas cenas incríveis. Descrevendo não vai ser a mesma coisa porque, afinal, sou uma mera redatora de merda.
A primeira delas aconteceu semana passada, num típico dia sauninha. Aquele ar abafado, denso, quase sólido. Céu com algumas poucas nuvens largas, daquelas que são mais pra filó do que pra algodão. Lá no fundo, umas bem cinzas e carregadas chegavam. A luz do dia era estourada, parecia flash: bem branca, que incomoda mais do que dia de solão amarelo. Andava para o trabalho pensando em alguma besteira quando vejo passar, bem na frente das nuvens escuras, um avião. O contraste foi o que mais me chamou a atenção. O avião, que já era claro, reluzia ainda mais com os raios brancos que batiam nele. A diferença de tons entre ele e a nuvem era tão grande que o avião parecia haver sido recortado e colado lá. Depois fiquei impressionada com a imensidão daquela nuvem, que fazia aquela geringonça, de metros de largura e mais metros de altura, ficar igual a um brinquedo.
Agora a segunda história.
Voltando pra casa do trabalho, em um dia diferente, aconteceu a outra cena. O vento estava forte e eu caminhava contra ele. Contra, mas a favor, já que ele muito me apetecia naquele instante. Estava de cabeça baixa quando senti algo encostar em meu rosto. Troquei o chão pelo horizonte e olhei pra frente. As flores de uma árvore, alguns metros adiante, cansaram de resistir ao vento e passaram a segui-lo. Eram tantas que nem sei como tentar enumerar e vinham na minha direção. Com toda delicadeza elas tocavam meu cabelo, meu rosto, os braços, as pernas. O vento continuava sacudindo a árvore que já estava totalmente arqueada, provavelmente lamentando a perda das suas tão estimadas florzinhas amarelas. Elas vinham em formato de casquinha de sorvete. É cônico que se chama, né? Partiam da árvore e vinham se abrindo círculos cada vez maiores, como bolinha de fumaça de cigarro que vai se dissipando no ar.
Pronto. Foi isso.
Parece bobo, banal, simples. Mas essa é a melhor parte: não foi.
Fiquei pensando no porquê daquelas cenas terem martelado minha cabeça por dias. Me dei conta que só consegui admirar os dois momentos porque estava bem. Se eu estivesse de mau humor, ressaca ou acordado com o cabelo horroroso, acharia o avião barulhento e as flores grudentas. Mas não. Lá estava eu, uma pessoa feliz, caminhando pela Eugênio Neto. Não que eu já não fosse. Mas ser lembrada disso de forma inusitada e tão vertiginosa, me fez cair na real.
O melhor é que adorei esse gostinho de pessoa abobada, que sorri com qualquer coisa. Deve ser por isso que ando exigente. Quero o bonito, o doce, o recheio, a parte mais crocante, o último pedaço, a cereja, o elevador vazio, o ônibus no ponto, quero achar dinheiro no bolso, quero o lado bom de tudo.
A tpm vai chegar, o cabelo ainda vai ficar sem jeito, vou queimar alguma coisa na hora de passar. Mas na hora eu penso nisso. Agora quero dar bom dia pra cachorro, achar elogio de peão legal e, assim, ir transformando tudo em aviões prateados e flores amarelas.
5 comentários:
achar dinheiro no bolso é uma das alegrias infantis que ficaram pra mim da mesma forma de que quando eu tinha 10 anos. outra: abrir o biscoito recheado ao meio e lamber bem devagarinho o recheio, vendo sessão da tarde, claro. mas isso já tem um bom tempo q não acontece.
amei e ponto. mais uma vez me senti vc.
bbl
passando aqui pra dizer que li
tudo
beijos
Por que será que eu tava prevendo comentários acerca de meu texto feliz?:)
E vê se atualiza o seu brogui.
bjs.
...acho que o texto pode ser resumido em "duax" palavrax, como diz Alexandre Frota: extou em paz!
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