3.11.06

Me tire daqui


De segunda a sexta acordo entre seis e seis e meia. Ando quatro quilômetros por dia. Às vezes, seis. Às vezes na areia da praia, às vezes no calçadão. Muitas vezes pela manhã. Poucas, à noite. Tomo café da manhã todos os dias. Nunca deixo de tomar. Nem de escovar os dentes. Fio dental eu tenho preguiça, às vezes esqueço. Vou à manicure uma vez por semana, depilo de 20 em 20 dias. Corto o cabelo a cada três ou quatro meses.

Vou ao dentista, cardiologista, ginecologista uma vez por ano. Vou ao cinema uma vez por semana, aos domingos. Mas estou preferindo as quartas mais em conta. Tenho vontade de chorar pelo menos uma vez por mês, mas não posso ver gente chorando na TV que também choro junto. Choro sempre que vejo uma cena de Crash, quando a menininha entra na frente do moço que atira no pai. Choro muito. Leio todas as noites antes de dormir. Durmo cada vez mais e leio cada vez menos. Menos de uma página por noite. É quase um ano para ler um livro. Uma vez por mês gosto de ir a um bom restaurante, japonês de preferência. Viajo uma vez por ano por pelo menos dez dias. Encontro minhas amigas de adolescência a cada dois meses ou mais. Muito pouco. Faço sexo nos finais de semana. Ou nos feriados. Muito pouco também. Vou ao supermercado todas as sextas-feiras. Pego filme na locadora às sextas também. Escrevo de quinze em quinze dias para este blog. Tento comer doce apenas nos fins de semana.

Trabalho todos os dias. E todos os dias me imagino saindo dessa rotina. Me imagino indo segunda à tarde para o cinema, dormindo até meio-dia em plena quarta-feira, nadando às cinco da tarde qualquer que seja o dia, almoçando em uma barraquinha na praia, sumindo por dois dias sem avisar a ninguém, bebendo vinho numa tarde fria, fazendo curso de teatro às 10 da manhã, lendo um livro inteiro em um dia, andando de barco, visitando uma exposição no centro da cidade, indo a uma festa na terça à noite e chegando às 8 da manhã em casa. E mais que tudo isso, imagino por quem, além de mim mesma, me motivaria a fazer tudo tão diferente.

3 comentários:

Elisa Quadros e Valeria Semeraro disse...

me abandona não....

Anônimo disse...

eu acho que poderia escrever um texto exatamente igual ao seu - com algumas pequenas diferenças que, na verdade, fariam com que eles se tornassem cada vez mais iguais. às vezes eu fico com uma preguiça de viver...

Anônimo disse...

Muito bão. Sincero.



bjs,