19.1.07

Desventura


Tenho tanto para ler, escrever e sentir que cansei de tudo isso, chega de palavras bem colocadas, pontos nos finais, vírgulas que separam orações, idéias e separam-me do que mais quero, ficar quieta. Chega de pensar tanto e tentar traduzir e seduzir com linhas retas e curvas. Que se lasque tudo isso, azar o seu, vou chutar esse monte de asneiras e vai ser já. Cansei de pensar em você e querer que você me queira, cansei de esperar um convite seu ou uma palavra que possa se encaixar na outra: — Gostaria de tomar um café comigo? — Tomaria tudo com você, café, chá, cachaça, banho de mar, de piscina ou de espuma.

It’s enough, diria meu professor de inglês. Ou c'est tout, diria Florance, a professora de francês. Pra mim, é chega mesmo. Que mais tenho que fazer para você me notar, hein?
Comprei um hidratante labial com colágeno para deixar meus lábios macios pra você beijar. Mas o tal batom milagroso tem cheiro de percevejo, você nunca vai conseguir me beijar se eu estiver usando isso. Acontece que nem querer me beijar você quer, nem com batom-percevejo nem sem.

Escutei as músicas, li os livros, conheci os lugares de que você gosta, segui você, mas você não me viu, então que se dane. Vou procurar outro para me distrair enquanto o mundo dá voltas ao meu redor e me enrola de tal forma que um ano não traz sequer uma, umazinha pequena mudança na minha vida, no dia após dia que passa por mim sem ao menos acenar para eu achar que as próximas 24 horas serão tão diferentes e intensas quanto o seriado da TV.
Chega de me torturar e suspirar por você, queria muito mais, daria muito mais. Daria da forma que você quisesse, é só mandar que eu faço, direitinho, não sou moça direita, não tenho vergonhas nem pudores. Não, deixa pra lá, já disse que não quero mais – preciso acreditar que sou eu quem está dispensando você no meu cérebro recheado de porcarias. Queria viver um pouquinho só, um tantinho de nada, para poder acumular histórias mais emocionantes do que as que conto agora. Quer uma aventura com direito a frio na barriga, chocolate quente e beijos molhados? Desculpe, tarde demais.

9 comentários:

Drika disse...

e, é nesta hora, quando jogamos tudo pro alto, paramos de querer, que eles notam.
homens distraídos. aff.

Anônimo disse...

Massa.

Anônimo disse...

é o pé na porta q queremos dar, mas um fio nos prende. agora estou encorajada a fazer o mesmo! rs
muito bom!

Elisa Quadros e Valeria Semeraro disse...

chuta que é macumba:)

Anônimo disse...

(Errata)


José Arnaldo vem através desta comunicar a todos os leitores deste site que, o comment publicado dia 20 Janeiro, 2007 08:50 com o seguinte dizer MASSA! é da autoria do mesmo que aqui escreve, e não de um simples anônimo.

Onde se lê anonymous said, fica José Arnaldo said.
Agradeço a todos a compreensão.

Anônimo disse...

é isso aí, acabei de fazer o mesmo. pé na porta, pé na bunda, pé na jaca, pé na lama, é tudo a mesma coisa. é tudo pé. e o que interessa é que, depois disso tudo, a gente se mantenha... de pé. (desculpe o trocadilho, mas foi necessário)

beijo!

Anônimo disse...

Eu viajo tentando imaginar quanta realidade tem nesses textos...
Recomeços são sempre dolorosos e emocionantes...
Parabéns pelo texto! Eita!

Anônimo disse...

Como saber se já esperamos o suficiente? Como saber se fizemos o que deveríamos para sermos notados? Como sabemos que o erro é do outro e não nosso?

Elisa Quadros e Valeria Semeraro disse...

o bira quer saber o quanto de verdade há no texto. o batom fedorento é verdade :P