15.10.07

O sexo e eu


A primeira vez que me disseram um “hoje, não” ainda está bem viva na minha memória. Eu devia ter mais ou menos 9 anos e brincava de boneca na casa da minha melhor amiga de infância. Todos os sábados eu ia para a casa dela brincar. A rotina se repetia desde os meus 7 anos. Levava uma Susi, um Falcon (que pegava escondido do meu irmão) e duas Fofoletes. Na sacola amarela de plástico também iam fogão, armários de cozinha, mobília com mesa, cadeira, sofá, tapete, cama e guarda-roupa com milhares de roupas de Susi novinhas. Minha mãe me ajudava a atravessar a rua com a enorme sacola amarela e subir os quatro andares até chegar na casa da minha amiga.

Ela se chamava Ana Paula e era 4 anos mais velha que eu. Como todos os outros sábados da nossa infância, cheguei ávida por esparramar o conteúdo da sacola amarela no chão do quarto e começar a montar minha quase Dogville em versão infantil. Engraçado que mesmo com 9 anos consegui perceber que alguma coisa estava diferente. O olhar, o jeito de falar, a ausência. Começamos a brincadeira e em poucos minutos ela já tinha avacalhado várias cenas da história. Quando olhei para o que ela fazia, vi que a Susi e o Falcon dela estavam numa posição bem diferente. – Que isso, Ana? Perguntei com misto de medo e surpresa. – Isso que dá brincar com criança. Eles estão fazendo amor. É assim que os bebês nascem. Você não sabia disso, não? E quer saber, não quero mais brincar hoje.

Você pode imaginar o que senti. Levar um fora de alguém que você gosta e por alguma coisa que você está muito a fim de fazer é no mínimo horrível. Confesso que não sei lidar bem com isso. E até hoje morro de medo de levar uma dispensada. E por isso, mesmo querendo muito, não tenho o hábito de tomar a iniciativa. E para algumas coisas, mostrar iniciativa pode ser tão difícil quanto desenformar um pudim. Sexo é uma delas. Todo mundo fala de sexo, conta casos, fala baixaria na mesa do bar. Quando é começo de namoro também é fácil dizer: quero dar ou quero comer. Mas coloque os dois debaixo do mesmo teto para ver o que acontece.

Nem sempre acontece e isso é fato. Escuto das minhas amigas: - tenho preguiça de começar. Como? Tem preguiça de fazer uma das coisas mais prazerosas da vida? Vai ter vontade de fazer o que, então? Um não numa hora dessas desencadeia a série de neuroses, tanto femininas quanto masculinas. Você já conhece a ladainha – será que estou com bafo, será que ela acha meu piru pequeno ou fino ou grosso ou torto, será que ele acha minha perereca muito larga, meu peito tá caído, tá murcho. Tudo isso porque alguém disse não na hora H. Ou arrumou uma desculpa muito esfarrapada, ou virou pro lado e dormiu.

Taí uma coisa que queria simplificar. Que poderia acontecer assim: vamos trepar? Sem mistério, sem fundo musical, sem meia luz, sem calcinha de renda. Isso é baboseira de TV. Voltemos ao naturalismo, sem floreios e com muito mais prazer. Às vezes tenho muita preguiça de fazer sexo, é verdade. Mas prefiro dizer sim. Estragar a brincadeira de alguém traumatiza de verdade.

34 comentários:

Elisa Quadros e Valeria Semeraro disse...

Eu queria que sua amiga sem coração lesse isso:)
Também acho que vale mais a pena vencer a preguiça ocasional do que ver quem a gente gosta pensar besteiras:)Até porque depois do impulso inicial, a preguiça acaba rapidinho:)
Texto bão, docinho, muito bão:)
beijo.

Mineira disse...

Não acho que a amiga seja sem coração... ela estava entrando na adolescência e assim, talvez tenha perdido o interesse pelas brincadeiras infantis... mas, ouvir um não é sempre ruim! Doloroso! E, na maioria das vezes, incompreensível, pra quem leva...

Inté...

...

Anônimo disse...

lembra daquele poema da martha medeiros que virou música do nenhum de nós? eu lembrei.

não tem como escapar ileso de um não.

Anônimo disse...

BOI PimMPÃO diz...

é isso ae...não vamos ter preguiça não.
vamos ser mais diretos e dizer o que queremos sem rodeios.

An@Lu disse...

ah... as vezes dá preguiça mesmo...
esse post me lembrou uma cena das "donas de casa desesperadas" em que a lynette diz para o marido: "querido, hoje posso só abrir as pernas?".
é dose, mas a verdade é que ninguém consegue ser lindo maravilhoso e sensual todos os dias. Pelo menos eu não consigo... :)

An@Lu disse...

ah... as vezes dá preguiça mesmo...
esse post me lembrou uma cena das "donas de casa desesperadas" em que a lynette diz para o marido: "querido, hoje posso só abrir as pernas?".
é dose, mas a verdade é que ninguém consegue ser lindo maravilhoso e sensual todos os dias. Pelo menos eu não consigo... :)

Anônimo disse...

Que trauma ela te causou hein docinho.
Belo texto.
bjins.

Anônimo disse...

Eu também acho que depois que se começa a preguiça passa...
Estava numa semana muito apertada de trabalho. Alguns dias sem comparecer com meu namorado (dormimos juntos todos os dias), daí, disse a ele que neste dia somente abriria as pernas. E ele aceitou. E foi bom. Resolvi o "problema" dele e ele demonstrou ter ficado super satisfeito...De verdade...:)
Meu psicólogo disse-me que é melhor conversar e dizer se tá a fim ou não. Mas, já tentei e não funciona.
Portanto, resolvi que mesmo quando estou com preguiça, não custa nada fazer um "esforcinho" inicial.

Unknown disse...

Eu tinha uma amiguinha mais velha também.
Só que ela que ia na minha casa com sua bolsinha amarela.

Eu, como boa criança apática e estranha ficava vendo Tv enquanto ela teatralizava sua futura vida doméstica com minhas bonecas recém saídas das caixas.

Só que eu mandei ela passear quando ela deixou minhas bonecas carecas e falou-me que o fabricante do fofão tinha pacto com o capeta e tinha colocado punhais dentro dos bonecos (isso incluia o meu).

Depois de levar a culpa pela calvice das bonecas que eu não brincava, uns dias sem dormir e de convencer mamis a doar o fofão macabro eu me recuperei (eu acho).

Observação descabida: Adorei o desenho ali de cima, de quem é?

www.ixcrota.blogspot.com

Anônimo disse...

Belo texto mocinhas... belo texto! Sempre remexando velhos dogmas... eu adoro isso aqui!
Bjos

Anônimo disse...

Sabe que lendo os textos de vocês eu percebi que não sou um bichinho tão estranho quanto pensava! ;) Beijão, meninas!

Vicente Celestino disse...

Muito bom. Me fez lembrar do poema do Vinícius, "O Haver", que termina assim:

Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.

Giovana disse...

Ultimamente eu também tenho estado com uma preguiçaaaaaa... aff.
O bom é que depois que a gente engrena, a coisa vai. Sem florzinhas e renda preta mesmo
:-)
E acho que depois que a gente mora junto com a pessoa, certas coisas perdem a graça.
Nhé!
Bjo meninas!

Anônimo disse...

preguiça?! putz...
béju!

Ju Gomes disse...

Amei este BLOG .. eh maravilhoso .. parabéns pelos ótimos textos e ilustrações!!!! Nunca curti blog ateh entrar nesse por acaso enquanto navegava no site Banheiro Femnino!!!

Anônimo disse...

eu tb acho que não precisa de musiquinha, rendinha, luz vermelha...hehehe
beijos

Anônimo disse...

o site é legal, mas como é água com açúcar, hein...
mas tá valendo.

bj

r a c h e l disse...

adorei esse teu post. e é verdade né? porque tem tanto desencontro nessa vida...

beijo e bom final de semana,

Anônimo disse...

lembrei daquela conversa de quarta sobre fazer amor e tal. hahaha, foi muito engraçado eu defendendo que a gente pensa em amor na hora do famoso "pau-dentro". mas acho que não me fiz entender muito bem. um dia a gente retoma e chega ao fim da conversa. pq nem me lembro se aquele dia ela deu em alguma coisa.
hahaha
e esse texto é como se fosse um desabafo. tudo bem que sempre tem a desculpa "não, é ficção!" (eu mesmo vivo usando hehe), mas parece um extrato de um diário.
beijos

teo netto disse...

adorei!
quando sai o livro?
Bjusssss

Darshany L. disse...

caralho.
muito bom mesmo!


quando começaram a fazer cenas de sexo com as barbies, nas brincadeiras, eu pensei em dizer não.
mas depois pensei melhor. ia demorar muito pra eu fazer de verdade =p

Anônimo disse...

e eu achava que eu era a única que juntava o falcon com a barbie.. meu deus, achei a minha praia..

muito bom..

quanto à iniciativa, tive poucos nãos, e quando eles existiram, quem perdeu não fui eu..
porque sexo é muito bom.. muito mesmo..

=***

Café disse...

Eu juntava Barbies com outras Barbies.
hahahahahahah
Meu irmão não morava comigo.. então não podia 'roubar' o Facon dele.
:~

Tbm recebi poucos nãos.
E, detesto admitir, mais ja tive que dar alguns.


Adorei o texto.
Beijooo.

Anônimo disse...

hohohohoho

as minhas barbies tb davam pro meu ken. o unico. comia tds. pegador o cara!

mto bom o texto! adoro falar, ouvir, ler e fazer sobre esse assunto.

besos

André Moinhos disse...

Ótimo texto.

Adorei o último paráfrafo! rs
Podia ser assim né? Bem mais simples. Até pq como foi dito, depois que começa não há preguiça... rs

Beijos

Anônimo disse...

Eu não tinha idéia q um não tralmatizaria tanto gente! Mas tem total fundamento, acabar com a brincadeira é tenso!
O texto é bem legal!

Cris disse...

Complicada a questão de esforço, porque depois de um tempo o esforço vira obrigação e aí fica tão chato, de repente, dormir e acordar mais disposto se faz algo digamos mais "produtivo", o não pode ser difícil mas as vezes necessário, mesmo que doa...nem sempre é bom evitar a dor...

Gabriel disse...

Olá meninas. Fiz um post inspirado nesse de vcs... Bjo.

http://gabrielouback.blogspot.com/2007/10/empurrozinho.html

Cléu Sampaio disse...

Sei não... nunca dizer não me parece tão "coisa de tv" quanto todo o resto. De qualquer forma, ser o lado disposto-não-correspondido é sempre mais difícil.

Beijo.

bacana disse...

pra desenformar pudim sei que antes devemos por a forma na água quente por alguns minutos, já para sexo ainda não sei o que é melhor: água fria ou quente... pra por as barbas de molho
:-)

Nath Gingold disse...

Gostei. O seu texto é super simples, parece que você estava conversando comigo numa mesinha de bar.
E realmente, qdo se mora sobre o mesmo teto as coisas mudam bastante. Depois da quarentena (depois que minha filha nasceu) tudo muda mais um pouco.

Bjos

Anônimo disse...

Concordo contigo!Ótimo texto.

jorginho da hora disse...

vocês se dizem editoras de merda, pois eu tenho um blog que se chama bostam city. Deem uma olhadinha, tá? BOSTAMCITY.BLOGSPOT.COM

Anônimo disse...

"Taí uma coisa que queria simplificar. Que poderia acontecer assim: vamos trepar? Sem mistério, sem fundo musical, sem meia luz, sem calcinha de renda. Isso é baboseira de TV."

PERFEITO!!