2.2.06

Dom

Amor é uma merda.

Diz meu antigo psicólogo que é criação do homem. Uma palavra inventada pra justificar uma necessidade social nossa: a de criar família, ser monogâmico e ter a obrigação moral de manter isso até que a morte nos separe (ou seria até que a morte nos salve?).
Amor que faz a gente ficar cego, surdo, mudo, paralítico, retardado, tolerante demais até.

Queria conseguir ver as pessoas que amo há tempos como quem acabou de conhecê-las. Ver seus defeitos, seus podres e chutar pra longe na primeira encheção de saco. Mas esse amor, invenção ou não, não deixa. Será que é medo? Sou uma covarde que prefere acreditar que é melhor aceitar amores incondicionais a buscar novas paixões? Ou seria o medo de deixar de ser amada?

Ah, mas que pretensão a minha. Quem disse que esses, a quem amo sem saber mais o porquê, também me amam? Quem garante que não dizem “ufa” quando desligo o telefone? Vai ver que com o tempo o amor vira isso. Uma encenação.

Tentando ser otimista, pode ser também uma forma evoluída de amor, por que não? Esse cansaço, esse nervosinho de já saber o que o outro vai dizer e fazer, pode ser algo perto da telepatia. Um sentimento transcendental, que nos coloca perto de Deus por evidenciarmos nossa bondade de espírito ao suportar o que nos é agora intragável.

Se é invenção, se é evolução, se é outra rima besta qualquer, não interessa agora. Jurei não sentir mais raiva quando fosse espizinhada por alguém que amo. Não quero perder meu tempo com isso. Nem com ódio, com lamento, com planos de vingança. Vou ser indiferente e fingir que continua tudo bem.

Porque se amor é invenção, deixar de amar é um dom.

Ilustração: Paulo Prot (Valeu, tem-tem. Vou abusar mais vezes:)

9 comentários:

Anônimo disse...

é difícil falar desse negódiamô!

Elisa Quadros e Valeria Semeraro disse...

É. Mas eu nem falei. Cuspi:) Engraçado que todos que lêem esse texto acham que tem a ver com um alguém, um macho, um ex, algo assim. Mas amores não se limitam a isso, a relações namorísticas. Nem esse texto.
E pra quem acha difícil falar de amor, vc ilustrou lindamente. bjs.

Anônimo disse...

Bom, não sei muito bem o que é o amor. Acho que nem sei se o que sinto por poucas pessoas possa ser chamado de amor. você sabe o que é o amor? Então ME EXPLICA DAVI, porque que toda vez que conhecemos uma pessoa nova, sentimental e sexualmente falando, e passada a fase de apaixonite a gente acha que aquele amor é melhor do que os que passaram? Porque deixamos para trás amigos que falávamos que amavamos? A minha explicação é porque o amor não se separa da bagagem que carregamos nas nossas experiências de vida, e sabe aquela história de que: "Ah, acabou porque não deu certo. Porque o amor acabou e ficamos amigos". Acho que não, acho que amor, na plenitude da palavra é amor incodicional. A gente se separa dos amigos ou relacionamentos porque quando juntamos as malas de ambas bagagens (tanto a nossa quanto a do outro) transformamos nossa própria bagagem, é como se esquecessemos um cinto na mala da outra pessoa e aquilo passa a ser parte agora da bagagem dela e vice-versa, metaforicamente falando. Sei lá, acho que pirei nesse textículo!! O lance é saber que o amor se tranforma e por isso devemos sempre agir com a verdade do nosso coração para que a nossa própria bagagem não seja extraviada. E lembrar sempre que ninguém é perfeito pra ninguém. Se nesse amor o problema era o tamanho do nariz, no próximo pode ser o tamanho de outra coisa... cuidado!!!

Anônimo disse...

Versão Ninho do Amor Ano I para esse texto: "Se o amor é uma invenção, continuar amando e amando e amando é nada mais que uma reinvenção do amor."
Como disse uma vez Fernanda Montenegro, quando questionada como ela continuava amando o mesmo homem há tantos anos: "Quem disse que eu amo o mesmo homem? Ele mudou, eu mudei, impossível estar apaixonada pelo mesmo homem." Queria aproveitar o espaço para mandar um beijo pro meu amor de cada dia. E ôtro procês, claro :)
Beijos!!!

Elisa Quadros e Valeria Semeraro disse...

Gux, o final que você sugeriu merece um começo e um meio:) Concordo com a história da reinvenção. Serei mais romântica e otimista na próxima:) Bjão e parabéns pelo primeiro ano de reinvenções.

Anônimo disse...

ai... o amor. Mais forte, diferente, viciante e transformador! Versão 2 Ninho do Amor Ano 1... parece que foi ontem... beijos para ele e pra vocês duas. Como é bom passar por aqui! Beijos!!!

Anônimo disse...

"A vida só é possível, reinventada". Cecília Meireles

Elisa Quadros e Valeria Semeraro disse...

Engraçado. De um texto tão amargo nasceram flores. Ah, l'amour:)
bjs pro casal :)

Clara Sampaio disse...

é, deixar de amar é definitivamente um dom.