21.7.06

Dente

Acho que não comprei a revista TPM que falava sobre dor, senão releria agora. Se comprei não lembro. Aliás, consigo pensar em pouca coisa. Tudo que lateja em minha cabeça é dor, dor, dor, dor. Não aquela de tristeza, de perda, de saudade, de amor. Falo da dor física em sua forma mais cruel, aquela que paralisa, que tira o pé do chão de tão intensa. Aquela dor que não dá intervalos, que varia entre fina e pesada o dia inteiro. Nenhum outro pensamento tem vez. Impossível me concentrar em qualquer outro objeto ou assunto. O enredo da minha mente gira em torno da dor: será que vai passar? Por que o remédio não funciona?

Uma das piores sensações é a de que nunca vai acabar. Depois de três dias de dor intensa, a memória esquece como é se sentir bem. Tento lembrar, mas não ficou nem um pedacinho pra eu me apegar. Por mais que me concentre, dormir uma noite inteira e acordar normalmente parecem vultos na minha lembrança, como memórias da infância ou flashs de um sonho.

A vontade de ser forte vai se distanciando e tudo que quero é ficar dopada, estirada numa cama, ouvindo vozes lá longe. A paciência para respirar fundo, manter a calma e esperar passar começa a ser invadida por ondas de desespero. Queria apertar o off e ser religada quando meu corpo puder sentir a ausência da dor. Desabitá-lo um pouco e só voltar quando a faxina com amoxicilina já estiver feita.

Coisa injusta é dor. Por que não sinto a não-dor com tanta intensidade quanto sinto dor? Por que quando estou ótima, com a saúde perfeita, meu corpo não reage inversamente e provoca uma incrível sensação de plenitude? Algo tão grande e tão insistentemente presente quanto a dor, só que agradável.

Sou resistente à idéia de tomar remédio. Adio o máximo que posso, para entender, até onde for suportável, o que está acontecendo com meu corpo. Mas nesse caso não dá mais. Quero meu raciocínio de volta. Minha rotina, meu sono, a capacidade de poder escolher no que pensar, sem ser dragada de novo para uma realidade escura, fechada e apertada, que me prende a um único pensamento.

Entrego então esse dia à dor. Aceito os antibióticos, antiinflamatórios, o repouso que for preciso para amanhã não mais vê-la. Deixo ela derramar seu sadomasoquismo todo em mim. Sadomasoquismo sim, porque se ela fosse apenas cruel, má, uma assassina fria, me mataria logo. Mas não. Ela é esperta. Deixa sofrer, penar, agonizar, porque sabe que se me matar, morre junto.

Ilustração: Vlad Paiva

6 comentários:

Anônimo disse...

o final fechou perfeito
muito bom mesmo!!!

Anônimo disse...

gente, q bacana esse blog e não tinha texto mais adequado para eu ler no momento, tô com uma dor insuportável... intestino preso!!!
rss

Thalmo disse...

Descobri hoje o blog das senhoritas. Muito legal. Este texto, então, mais dolorido impossível.
O trabalho do Galvão eu já curtia e foi bem legal vê-lo também estampado por aqui.
Voltarei sempre que puder.
Parabéns para vocês. Abraço.

Anônimo disse...

gostei muito do texto e mais ainda do blog!
abs

Anônimo disse...

ai minha morena, puxa... eu sei como são essas dores. lembro que vc estava mal mesmo. mas, agora passou, né? afffe, essa carne nossa de cada dia, que sofre e não sabe voar! odeiiiooo! rsrs beijos, da carol v.

Anônimo disse...

ai... doeu em mim esse texto. O.o