Ele não é nada romântico. Nunca falou eu te amo de sopetão. Jamais fez planos impossíveis. Jurar amor eterno então, hunpf.
No início eu achava que era apenas timidez e me consolei com essa desculpa, criada por mim mesma. E a ausência de romantismo não me desiludia. Apenas fazia pensar que era uma espera, que seria devidamente compensada com o tempo. Se ele dizia que eu estava bonita, agradecia, mas ficava esperando um é a mais linda que já conheci. Se ele sorria, aguardava um abraço desses de cansar de ficar na ponta dos pés.
Esperava o romantismo se manifestar e perdia todas as demonstrações mais sinceras de afeto. Idealizar o amor foi um desperdício de tempo. Queria ouvir declarações prontas, promessas absurdas, frases dignas de fim de filme. Esperava refrões de músicas, versos únicos. E querendo tanto, a frustração só era maior.
Queria exageros ditos de um jeito bonito, que parecessem exclusivos. Durante meses, ele dizia verdades e eu buscava clichês. Não entendia que o amor também estava escondido em silêncios e olhares inocentes. Em palavras comuns, sem lágrimas, comoção excessiva, sem Almodóvar.
Enquanto ele era sincero, eu queria mentiras. Queria aquilo ali que vi na tv. Como chegar no supermercado e pedir um amor pronto. E ceguei pro amor sendo construído bem na minha frente. Jogava expectativas para cima dele, tentando abafar inseguranças minhas. Vai ver não reconheci porque não conhecia, tinha referências erradas, entortadas por conceitos surreais de amor e romantismo. Bom que percebi a tempo de me deleitar. Sei que seus sorrisos, quando vêm, são espontâneos. E até seus acessos de sinceridade não me doem. Fazem sorrir.
- Tá com saudade?
- Não, ué, nos vimos há 30 minutos.
O que me deixaria arrasada, agora me faz feliz. Sinto alívio por entender que amor não pede por exclusividade. Amor exercitado com leveza e suavidade não sobrevive sozinho. Não é a base da vida, não rege vontades e desejos, mas se mistura como açúcar em café, tirando o amargo e aumentando o sabor.
Claro que ainda peço afagos quando me cansa dirigir ou quando me sinto feiosa. Mas que venha como dengo e não como uma massagem de ego descarada, um predadorismo romântico, que busca usar o outro para se alimentar.
Como diz minha mãe, a gente não nasce grudado em ninguém. Só na mãe mesmo, e ainda assim, somos separados imediatamente. Viver a dois é viver bem sozinho. E mesmo com medo de admitir e depois me arrepender, acho sim que posso aprender.
No início eu achava que era apenas timidez e me consolei com essa desculpa, criada por mim mesma. E a ausência de romantismo não me desiludia. Apenas fazia pensar que era uma espera, que seria devidamente compensada com o tempo. Se ele dizia que eu estava bonita, agradecia, mas ficava esperando um é a mais linda que já conheci. Se ele sorria, aguardava um abraço desses de cansar de ficar na ponta dos pés.
Esperava o romantismo se manifestar e perdia todas as demonstrações mais sinceras de afeto. Idealizar o amor foi um desperdício de tempo. Queria ouvir declarações prontas, promessas absurdas, frases dignas de fim de filme. Esperava refrões de músicas, versos únicos. E querendo tanto, a frustração só era maior.
Queria exageros ditos de um jeito bonito, que parecessem exclusivos. Durante meses, ele dizia verdades e eu buscava clichês. Não entendia que o amor também estava escondido em silêncios e olhares inocentes. Em palavras comuns, sem lágrimas, comoção excessiva, sem Almodóvar.
Enquanto ele era sincero, eu queria mentiras. Queria aquilo ali que vi na tv. Como chegar no supermercado e pedir um amor pronto. E ceguei pro amor sendo construído bem na minha frente. Jogava expectativas para cima dele, tentando abafar inseguranças minhas. Vai ver não reconheci porque não conhecia, tinha referências erradas, entortadas por conceitos surreais de amor e romantismo. Bom que percebi a tempo de me deleitar. Sei que seus sorrisos, quando vêm, são espontâneos. E até seus acessos de sinceridade não me doem. Fazem sorrir.
- Tá com saudade?
- Não, ué, nos vimos há 30 minutos.
O que me deixaria arrasada, agora me faz feliz. Sinto alívio por entender que amor não pede por exclusividade. Amor exercitado com leveza e suavidade não sobrevive sozinho. Não é a base da vida, não rege vontades e desejos, mas se mistura como açúcar em café, tirando o amargo e aumentando o sabor.
Claro que ainda peço afagos quando me cansa dirigir ou quando me sinto feiosa. Mas que venha como dengo e não como uma massagem de ego descarada, um predadorismo romântico, que busca usar o outro para se alimentar.
Como diz minha mãe, a gente não nasce grudado em ninguém. Só na mãe mesmo, e ainda assim, somos separados imediatamente. Viver a dois é viver bem sozinho. E mesmo com medo de admitir e depois me arrepender, acho sim que posso aprender.
Ilustração do romântico à moda moderna, Everson Cabideli.
16 comentários:
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Ah, o amor!
Um salve para esse sentimento tão efêmero para uns e inquebrantável para outros.
Bjs.
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Ah, o amor!
Um salve para esse sentimento tão efêmero para uns e inquebrantável para outros.
Bjs.
já disse que adorei o texto, né?
hehheehe
beijos
parabéns para o everson que ilustrou muito bem e parabéns pra docinho que voltou das férias com textos lindos na bagagem.
elisa
Se voltei com textos lindos não sei. Mas num ritmo beeem lento, ôxi, voltei:)
Voces podem não acreditar, mas esse texto acabou de salvar um casamento... Parabéns!!
Gente essa sou eu...
Impressionate, mais como agente se cega e n ve que sofre por que nós queremos mesmo...
Meu Deus, foi o meu casamento que essas Palavras acabaram de salvar...
Amei...
OBS: N paro de chorar um momento...
Ai, casal, assim eu choro também:)Fiquei muito feliz ao ler o comentário de vocês.
Fiquem bem, viu? E apareçam sempre:)
beijos, val.
a carga de verdade e de revelação ao ler o que você escreveu é tão forte que faz a gente recapitular cada vez que exigiu inutilmente um romantismo de filme e perdeu a chance de ver o que realmente estava acontecendo na nossa frente.
o problema é que nem todo mundo tem a chance de ver isso a tempo, como você e o casal aí dos comentários. :-/
este foi um dos melhores que eu já li por aqui.
beijo
gatinhas, agora estarei sempre por aqui. o lema é idealizar menos e viver mais mas acho que o segredo é sabermos diferenciar um romance à moda moderna de descaso. ai q complicação. bjokas - bom estar aqui.
Em tempo(e sem querer bagunçar o coreto): eu não faço parte do casal salvo, eu só mostrei o texto...rsrs
Mas vcs continem manda atiçando corações...
É isso mesmo? Vocês não vão atualizar essa bustenga nunca mais, não?
Esqueça o job, e foco no blog...rs
(até rimou)
que lindo!
Amei.
ówn!
7 anos depois, ainda o melhor texto.
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