18.4.07

Mais do que existe


Foram à festa de um amigo dele. Ela sabia que encontraria pessoas que não conhecia, entre as quais a ex do namorado. Já tinha visto a tal em outra ocasião, mas não lembrava bem de seu rosto. Chegando lá cumprimentou todos, distribuiu sorrisos, teve cuidado pra não ficar com comida entre os dentes, enfim, buscou ser sociável. Só que, por mais que tentasse, seus olhos, quase involuntariamente, buscavam a ex do namorado pela casa. Quando menos esperava, viu a maldita. Quer dizer, a menina. Tinha uma pele morena linda, mas um cabelo feio, credo. Não podia desprezá-la por completo. Afinal, se o homem que a amava já quis um dia estar com aquela vaca, quer dizer, garota, algo de bom ela devia ter.

Se antes já estava difícil, agora não se controlava. Olhava fixamente para a piranha, quer dizer, menina, pensando o que poderia tê-lo atraído nela e desejando, quem sabe, assim, de repente, disparar um laser assassino na cabeça da entojada. Como era previsível, a morena, depois de alguns flagras, percebeu que estava sendo vigiada. Sem relutar um só centímetro, foi caminhando em direção ao casal e cumprimentou os dois naturalmente. Nossa protagonista se sentiu ridícula e envergonhada por ter pensando tão mal da moça.

Minutos depois, a cachorra, quer dizer, a morena, foi para a pista de dança. Junto com as amigas, fazia passinhos sensuais, cantava fazendo caras e bocas e bebericava sua caipirinha. Diante daquela cena, a impressão de que os três beijinhos serviram para selar paz foi pelos ares. Agora estava certa de que a intenção era declarar guerra. Aquele cumprimento não havia sido amistoso. Na legenda estava lá “Quero ele de volta. Vamos ver quem se dá bem”. Se era pra brigar, ela lutaria até o fim. Ou até que seu celular tocasse, com sua mãe pedindo que voltasse pra casa e levasse seu pai ao hospital. Crise de asma daquelas. Não quis acabar com a diversão do namorado. Apesar do ciúme atravessado que nem pentelho na garganta, foi embora e o deixou lá.

No dia seguinte, assim que acordou, descontrolada e descabelada, foi direto pro Orkut saber mais sobre a vagabunda – sim, agora sentia-se à vontade para xingá-la sem correções. Leu o perfil, foi ao álbum, estudou bem a adversária. Estava pronta para um Brasil x Argentina.
Conversando com o namorado, com quem jurou nunca comentar nada daquilo, porque senão daria ibope demais para a outra, ouviu ele dizer:
- Depois que você foi embora aconteceu uma merda. O Zé recebeu uma ligação. A Débora sofreu um acidente. Nada grave, mas deu um susto. Destruiu o carro.

O mundo parou. Débora? Como assim? Débora era a ex dele, a morena safada. E se ela estava na festa, como sofreu acidente? Jogou verde.
- Mas a Débora não estava na festa?
- Tava não.
- Quem era aquela morena? Uma da blusa branca larga, que veio cumprimentar a gente?
- Morena? Era a Carla.
Sentiu vergonha. Passou a festa toda e horas no Orkut vendo chifre em cabeça de cachorro. Transformou a pobre morena do cabelo feio, tá, nem era feio assim, em vilã de novela das 20h, planejou sua derrota, xingou todas suas gerações. Quanto tempo perdido criando problemas. Riu por dentro e falou pra ele.
- Humm... simpática ela, né?
ilustração em www.vidabesta.com

9 comentários:

Anônimo disse...

hehehehehehe
boa história :)
bjs

Anônimo disse...

Mulheres... :).

Elisa Quadros e Valeria Semeraro disse...

mulher vem com o botãozinho da neura ligado desde criancinha.

bjo, docinho :)

Love, Ink disse...

MUITO boa. Ja comi risotto, fondue de chocolate, tomei vinho do porto e vim aqui matar as saudades. Me deparo com essa perola. Voces fizeram falta no evento social aqui de casa hoje.

Anônimo disse...

Hahahaha... gente, tô dando muita, muita risada aqui. E devo estar vermelha de vergonha, que já fiz algo parecido! Kkkkkkkkkkkkk
"você tá caçando chifre em cabeça de cavalo!" é a frase preferida da minha mãe pra mim.
Kkkkkkkkkkkkkk
Delícia esse texto, muito bom!
Bjo!
Gio

Anônimo disse...

não sei pq, mas a sensação é a de que essa texto é beeeem real.
hehehehehe
beijos!

VerLok disse...

Muito boa história mesmo... parabens!
Real? Qual história não é... ;)

Anônimo disse...

já fiz algo pareciido e depois fico me sentindo uma tapada, e pensando : como imaginei uma coisa dessas .. mas na hora da raiva a gente neim para pra pensar que podemos estar fazendo um papelão né? Mas é bom quando no final percebemos que estaamos colocando 'chifre em cabeça de cabalo' pq do contrário ..

otimo texto, ameeei ;D

;*

Anônimo disse...

↑ cavalo *