7.2.10

Carta aberta

Docinho, de novo estou atrasada com o texto para o blog. E de novo posso arrumar inúmeras justificativas injustificáveis. Não sei se está incomodando você esse tempo em que não estamos tendo para falar de coisas corriqueiras. Pra mim, tá começando a ficar bem chato. Porque gosto de saber das coisas comuns, se você está aproveitando as promoções do quase fim do verão, se está lendo algum livro, pra onde tem ido, que filmes tem visto, se seu apartamento já ficou pronto. Só não tenha dúvidas de que acordo pensando em duas coisas: preciso escrever e preciso falar com a Val.

Hoje, em especial, gostaria de estar perto de falar de como estou me sentindo. Acho que estou perto desse fim de balanço. E, talvez por isso, não tenho tido assunto suficiente para transformar em um texto. Você inventa histórias e eu só sei falar de mim mesma. As poucas que criei não chegam a fazer número para eu poder acreditar que também consigo.

Como acabei transformando meus textos num meio de vomitar todas as dores que me incomodavam e após cinco anos eu me colocando como a personagem principal de quase tudo que está escrito aqui, parece que esvaziei. E agora? Sim, uma redatora de Merda, com m maiúsculo. Além de atrasar o blog transforma ele em consultório sentimental.

Cuspi aqui muita coisa que estava agarrada e posso dizer que me sinto melhor – mas que fique bem claro, foram cinco anos pra me recuperar de um tanto de trancos. Pelo jeito, vou decepcionar os autores de auto-ajuda. Não consigo ser feliz em dez lições. Dez mil, talvez.

Quero comentar com você o último filme que vi, Deixa ela entrar. E saber se você gostou tanto quanto eu. Quase não tenho saído, e agora que Léo voltou a estudar, quero pegar no pé dele para que de novo não fique quase reprovado.

Fui no restaurante que éramos para ter conhecido, adorei. O lugar é bem bonito e a comida não decepciona. O preço é honesto e os garcons, sorridentes. Precisamos ir da próxima vez.

Seu aniversário está próximo e torço muito para que você esteja por aqui, existe uma tradição de festas cheias de frenesi, inaugurada por você e Dani, que não pode deixar de acontecer.

Estou meio lerda para formular ideias, tenho trabalhado, ou melhor, executado um sem número de pedidos. E como estou novamente fora de minha praia, me perco, morro de medo de esquecer alguma coisa, tenho sonhos com clientes brigando comigo e na verdade eles brigam mesmo. Não sei lidar muito bem com isso, fico um tanto quanto atormentada.

Minha mãe ainda está aqui em casa e sinto que nosso tempo já está perto da data de validade. Todo ano é igual, ela chega, eu fico entusiasmada, me empolgo para sair, levá-la para passear, ir ao cinema, tomar café. Mas alguma coisa entre a gente é frágil, e em um mês já estamos nos tropeçando. Depois do carnaval, ela volta pra cidade dela. E eu volto a ser dona da minha cozinha.

Além desta carta, iniciei outros textos, e vou deixá-los prontos para não passarmos por isso novamente. Em novembro o blog faz cinco anos e quero entupir isso aqui de textos dignos. Cansei de sentir que estou atrasada.

Beijo,

Docinho

Ilustração do Galvão.

23 comentários:

Sam disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sam disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sam disse...

Existe algum momento, causador dos maiores medos possíveis, parece que somos esvaziados de nossa imaginação para escrever. Isso dá muito medo!

Mila Mesmo disse...

Que bom abrir essa carta aqui, pra gente leitoras fiéis.
A gente espera, não se preocupa. A espera é sempre recompensada.

Dan disse...

o "branco", quando acaba, faz com que redatores de merda se tornem grandes.
Relaxa! :)

Careca disse...

É sempre bom encontrar um texto de vocês. E a sua sinceridade é mesmo cativante.

val disse...

docinho,
eu gostei muito de deixe ela entrar.
eu vou estar em vix ns dias 19,20 e 21.
eu quero ir no restaurante legal que a gente ia e não foi. mas acho que dessa vez vai ser difícil.
ai, o léo. só não vou bater nele pq vou acabar apanhando bem mais.
e vc, mesmo em crise criativa, honra o nome de redatora de merda:)
muitos beijos

Eraldo Paulino disse...

Eu iria dizer que esse é o silêncio que precede o esporro, mas não gosto de não ser original...
"Só se tem saudade do que é bom"

Bjs!

_branquinha_ disse...

Tenho muita vontade de escrever em um blog, mas tenho esse medo de a criatividade não brota e tornar tudo enfadonho...
Sua carta-desabafo é linda! Mostra o quanto se pode importar com as pessoas a quem se quer bem. Continue escrevendo, vocês fazem os meus dias beeeem melhores (mesmo quando choro ao ler os textos... =])
E Val, você tem um lugar especial aqui no meu coração, viu!? Estou adorando poder fazer parte, nem que seja pequena, da sua vida nesse caos que é Sampa!
Grandes beijos.

figbatera disse...

Elisa, ainda bem (ou não?)que o prazo de validade entre vc e sua mãe dure um mês; conheço casos em que esse prazo não passa de 3 dias...rs

Darshany L. disse...

carta mais bonita :)

elisa disse...

adorei o "E eu volto a ser dona da minha cozinha", não se preocupe, as mães são sempre assim, a sua não é diferente.
e só pra constar, gosto disso aqui atualizado "mermu" :)
bj xará

Bernardo disse...

Olá Val e Elisa, há muito tempo acompanho o Blog e sou fã de todos os textos. Sou ator e gostaria de saber o email para entrar em contato com vocês, pois estou com um projeto que acho que pode ser divertido para todos nós. Meu email é: bes_cunha@hotmail.com. Por favor me respondam. Bernardo Castro Alves

Paulo Bono disse...

mas é bom quando a gente não tem o que escrever, e escreve mesmo assim.

abraço

Tahiana Andrade disse...

Gostei muito do seu blog!
Não sei exatamente onde eu o encontrei... só sei que estarei sempre aqui, lendo-o1

Marina Vianna disse...

Esse é o melhor blog pra sempre, leio voces a uns 4 anos já.
Voces sao as melhores, com ou sem crises de inspiracao,
Elisa, pode ter certeza que adoramos seus relatos de voce mesma.
Beijo meninas

Clara Sampaio disse...

que saudade imensa de vocês!
sempre.

beijos.

TOCA - DESDE 1994 FAZENDO AMIZADE! disse...

Oi, Lila!
"Há razão que a própria razão desconhece"
E eu que fiquei 20 anos!
Nessa hora, muita calma e siga a sua VIDA, da maneira que você achar melhor pois ela pertece somente a você. Quem paga as suas contas?
É você!
Quem educa o seu filho?
É você!
Portanto, bola pra frente e conte sempre comigo.
Val, beijinhos pra vc.
Fique de olho no "Vira-lata" pois está numa idade perigosa.
Papi.

DESABAFO.COM disse...

Uma delícia de ler...
De fato, o blog é uma desculpa fantástica para falarmos das nossas próprias dores...
Faço o mesmo.

Beijos!
Fê - DESABAFO.COM

Delírios Literários disse...

É engraçado como nós, bloggueiras, às vezes limitamos nosso espaço a falar de nós mesmas. Às vezes em textos verídicos fabricados com nomes fictícios, e ainda torcemos para o "fulano-de-tal" citado não ler e, se ler, não perceber que estamos falando do dito cujo(a).
Estar se sentindo atrasada deve ser mal de toda bloggueira, todas as vezes achamos que o que vamos escrever por não interessar ou ficar meio chato, mas é importante sempre ter um papel e uma caneta por que a fila do banco é longa, e me espera.
Parabéns pelo texto e fique calma, a cozinha volta a ser sua já já.

Adoramos o blog de vocês.

Unknown disse...

Não somos máquina e a vida segue, às vezes, sem grandes casos.
inté

Maria Gabriela Brito disse...

Dedico esse texto a minha querida amiga Sarah, ela deve saber as razões.

Lucas disse...

Tem que correr. Trabalhar pagar familiar respirar comer trabalhar questionar avançar e correr e correr e correr! Tem que ser depressa. E eu corri tanto e tão rápido que quando vi, as coisas boas tinham ficado pra trás, bem lá pra trás. Aí corri de volta.